O Haiti e a ferida aberta

Já são mais de 150 mil as vítimas fatais do terremoto que abalou o Haiti no último dia 12, além de feridos e desabrigados. O país assiste à ação de diversos atores, debruçados sobre questões aparentemente mais profundas do que a ação geológica do planeta.

Os Estados Unidos lideram a missão humanitária. Obama enviou soldados e suprimentos em larga escala, navios-hospitais, médicos e voluntários, despertando reação imediata de Hugo Chávez e Evo Morales, que acusam a potência de operar uma invasão militar. Há mesmo muitos relatos de excessos pelo exército norte-americano. Responsáveis pela gestão e segurança do único aeroporto funcional, os soldados restringiram pousos e expulsaram jornalistas sem qualquer critério.

Ainda assim, a intervenção é necessária e merece elogios, simplesmente por destoar do tradicional critério de interesse econômico ou político. A mobilização pelo país mais miserável do continente justifica o reconhecimento internacional, especialmente da França, sempre crítica. No cenário interno, também foi quase unânime a aprovação à solidariedade do governo, com exceção de alguns militares preocupados com os potenciais prejuízos às guerras no Oriente Médio.

Tempo para o pôr do sol

publicado no Guia da Semana em 22/01/10

Viver em uma cidade como São Paulo, gigante e acelerada, muitas vezes significa abrir mão de momentos preciosos da existência. O ócio se tornou crime, e soa absurdo deixar obrigações de lado. Afinal, todo tempo é dinheiro nas metrópoles que não dormem, e a sobrevivência grita.

Ainda assim, a todo o momento se reafirmam a fragilidade do ser humano e sua dependência dos elementos naturais primitivos. E o cansaço do corpo e da alma já faz com que em diversos pontos do planeta, especialmente na Espanha, França e Itália, cada vez mais pessoas optem por um estilo diferente. Vidas alheias à ultravelocidade, à acumulação e ao consumo, princípios de um sistema aparentemente inevitável. Aparentemente.

Mudança de ares

Barack Obama terá que rever suas resoluções de ano-novo.

O presidente norte-americano esperava começar 2010 com todas as atenções voltadas para questões consideradas cruciais, como as crescentes taxas de desemprego, a nova legislação de saúde e a presença militar no Afeganistão. Porém, após a tentativa frustrada de atentado contra um vôo internacional no último Natal, os planos do presidente é que foram pelos ares.

Mais que suficiente para trazer o terror de volta ao centro das atenções, a recente investida da Al Qaeda e a ameaça de novos ataques já monopolizam a agenda política do país.

Ainda assim, em meio à convulsão das prioridades, uma boa notícia.

Obama decretou ontem o fim da proibição de entrada em território americano de portadores do vírus HIV. Para o presidente, o veto, em vigor há 22 anos, era incompatível com as pretensões do país em servir de modelo mundial na luta contra a AIDS.