As provocações do Senhor América

abril 9, 2010 at 1:16 am Deixe um comentário

Uma visita ao encantador universo de Andy Warhol na Pinacoteca

publicado no Guia da Semana em 09/04/2010

A Estação Pinacoteca recebe até 23 de maio exposição sobre o norte-americano Andy Warhol (1928 – 1987), estampando no terceiro e no quarto andar do prédio boa parte das obras mais conhecidas deste ícone da pop art e referência da cultura mundial na segunda metade do século XX.

Warhol foi um artista múltiplo que fluiu livremente pelas artes plásticas, fotografia, cinema e música. São dele capas de discos clássicos de bandas como Rolling Stones e Velvet Underground. Retratou como poucos as particularidades da cultura de massa e do sonho americano, elevando estes temas ao nível de matéria artística.

A exposição “Andy Warhol – Mr. America”, que traz no título uma referência ao concurso de fisiculturismo popular naquele país, é antes de tudo um alerta sobre a importância da experiência direta.

Mesmo em tempos de superexposição às imagens, o contato material ainda é insuperável. Especialmente com um artista que se alimenta do próprio materialismo.

A exposição acerta ao pontuar as obras com citações e anotações de contexto. Ajuda na compreensão e enriquece a visita. E à semelhança da mostra “Fauna e Flora”, sete anos atrás no Bank Boston, a curadoria da Pinacoteca entrega na dose certa. O suficiente para satisfazer, mas deixando acesa a curiosidade.

As criações de Warhol se situam no limite entre a produção humana e a reprodução maquinal, característica da sociedade de consumo, nascida e consagrada nos Estados Unidos. Ao observador fica a dúvida sobre a intenção do artista: humor ou drama?

Na contramão dos manuais do politicamente correto, existem conflitos em quase tudo o que Andy toca. É difícil compreender, por exemplo, o desejo de um artista tão particular de uniformizar os seres humanos.

Suas sutilezas são precipícios. A sensação de repetição em certas obras gera ao mesmo tempo estranhamento e conforto. No conjunto, o acervo questiona a individualidade, como na célebre e acertada premonição de que “no futuro, todos serão famosos por quinze minutos”.

Política e celebridades são igualadas de um ponto de vista psicológico. São seus assuntos prediletos, juntos do voyeurismo, da auto-exposição e da morte, vista como uma etapa natural e necessária.

Nas peculiares serigrafias sobre tecidos, Marilyn Monroe, Mao Tsé-Tung e Lênin, as sopas Campbell, o ex-presidente Nixon – que ganha nas cores e sobreposições ares de vilão de HQ – e o casal Kennedy, dentre outros. As barbáries ascendem ao estrelato, sob novas perspectivas. Nos autoretratos, camuflagens do personagem/artista em seu habitat natural urbano, marginal e vanguardista.

É preciso ver. Não entregar aqui certas surpresas.

Vale conhecer também os acervos fixos do museu. Em especial o Memorial da Resistência, iniciativa de preservação da memória de ilustres e anônimos que perderam a vida em nome da democracia no Brasil. Uma homenagem justa e adequada: de 1939 a 1985, o prédio da Estação Pinacoteca abrigou o DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), o repulsivo órgão de repressão e tortura do governo militar.

A mostra “Andy Warhol – Mr. America” fica em cartaz na Estação Pinacoteca, de 20 de março a 23 de maio de 2010, de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada custa R$ 6,00 (estudantes e idosos pagam meia) e é grátis aos sábados. No Largo General Osório, número 66, República (centro). Mais informações no telefone 3335-4990 e no site http://www.pinacoteca.org.br.

crédito das fotos: divulgação Estação Pinacoteca

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