Vicky explica
agosto 6, 2010 at 10:25 am 1 comentário
O lugar onde Sigmund Freud, Woody Allen e Jacques Lacan se unem contra as convicções inabaláveis
publicado no Guia da Semana em 06/08/2010
Sexta-feira passada visitei um debate entre cinema e psicanálise, atraído pelo convite de um grande amigo e principalmente pelo tema, tão intrigante quanto sedutor: o amor feminino sob a ótica do filme Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen.
A discussão aconteceu no Aprendhere, centro de psicologia que além da clínica oferece cursos de extensão universitária e eventos como o CinePsi, quando o cinema esquenta a conversa para o estudo do inconsciente. Alguns quilômetros e um oceano de automóveis nos separavam na sexta-feira e exigiram alguma fé no humor turrão do ilustre nova iorquino (trompetista de mão cheia) para chegar no horário, ou perto disso. Um agradecimento terno aos governantes de todas as épocas e espécies pela tara mal resolvida por automóveis.
Freud explica? Quase. Afinal, quem conduziu as discussões ao lado do jornalista e cinéfilo terminal Leonardo Freitas foi a psicanalista Cristiane Mendes, especialista na teoria de Jacques Lacan, neurologista e psiquiatra francês que no século passado foi celebrado como o mais importante discípulo de Freud. Diante da multiplicação de interpretações, Lacan propôs um retorno literal às lições do mestre. De suas contribuições, me chamou a atenção leiga o paralelo entre linguagem e inconsciente.
Uma ponte que guarda relação com Vicky Cristina Barcelona, e também explica um certo deslumbramento meses atrás quando, desavisado, pensei ser um filme de Almodóvar. Cinéfilo cru, me deixei confundir pelo inesperado: cores, diálogos, trilhas, a latinidade inflamada e principalmente uma improvável sutileza no trato com o interior psicológico das personagens femininas.
O enredo gravita as jovens americanas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), em Barcelona nas férias de verão. A primeira é a pragmática noiva-com-casamento-marcado em uma pós-graduação protocolar na Europa. A outra é a alma solta em busca de uma vocação, ou do que for. Lá elas conhecem o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), sedutor às voltas com a ex-esposa temperamental e explosiva, a também pintora Maria Elena (Penélope Cruz).
Woody Allen parece projetar suas convicções passionais escondidas sob infinitas camadas do famigerado existencialismo sarcástico. Especialmente nas inserções do narrador, um filtro que revela e esconde, projetando conflitos sobre relações humanas como sugestivas sombras na parede. Atuações impecáveis, especialmente de Cruz e Bardem, um casal também na vida real.
Após a exibição e considerações iniciais, a palestra tomou ares de debate. A maneira heterodoxa com que as personagens se relacionam instiga o depoimento pessoal, por sua vez combustível para questionamentos e entendimentos. Flertes com a antropologia: patriarcado, opressão e masculinização da “mulher independente”, experiências e papéis. Fidelidade, honestidade, amor.
Os debatedores conduziram bem a experiência e acertaram em deixar ao final interrogações ao invés de pontos finais. O lugar é um ambiente perfeito para quem se interessa pelos temas da psicologia e do comportamento. Três horas e pouco passaram rápido e povoaram pensamentos por dias. Tempo ganhado.
O Aprendhere fica na Rua Serra de Botucatu, 1209, no Tatuapé, próximo ao metrô Carrão. De segunda a sexta das 9h às 21h, sábado das 8h às 14h. Telefone: (11) 2294-1765.
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1. May | agosto 13, 2010 às 6:27 pm
eu escrevi sete paginas de comentario… nao preenchi o email… e tudo se foi…
o que digo agora é…
ps.: para cada tipo de amor existe um tipo de dor… e vice e versa….
ou não…